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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Brigitte Bardot Nua

Durante toda sua carreira, Brigitte Bardot esteve nua, mesmo estando vestida.
Sua vida pessoal, que parecia na época render mais escândalos do que suas cenas de amor em filmes, levaram-na ao escárnio da sociedade, imperdoável com ela. Já a Imprensa, com seus incontáveis papparazzi, engordava seu cofrinho a cada foto comprometedora ou reveladora que conseguisse da atriz. No final dos anos 50, Brigitte já não aguentava mais. Trabalhando de filme em filme, ora encontrando a paz no trabalho, ora se enfadando dele, vivia presa em sua jaula: um apartamento na Avenue Paul Doumer. Cortinas sempre fechadas, pois qualquer brechinha poderia ser aproveitada pelos fotógrafos, sempre de plantão. Eles viviam aos montes, alugavam os apartamentos da frente e ali permaneciam a importuná-la. Aquela menina tão jovem conheceu o inferno, como ela mesma relata várias vezes em seu livro de memórias - "Iniciais BB".
Recebia cartas de todos os tipos e aquilo a horrorizava: era gente pedindo dinheiro, emprego, admiradores que escreviam-lhe propostas indecorosas. Mas o que mais lhe machucava, lhe dilacerava eram os xingamentos, em sua maior parte de um público revoltado e invejoso. Mulheres que não compreendiam que Brigitte nasceu para ser livre, como um pássaro.
Símbolo do amor livre dos anos 60, na verdade, foi na década anterior que este mito se firmou. Ela, é claro, não entendia o porquê de tanto ódio. Porque o preço da liberdade lhe era tão alto, se ela já o pagava com um sofrimento típico das estrelas inseguras: a solidão.
Sua paixão tão intensa por Gilbert Bécaud era solitária. Os Natais sozinha, com seus cachorros(que nada compreendiam de suas angústias), a espera por um telefonema, um encontro super bem arquitetado na Paul Doumer eram sonhos de um amor impossível.
Bardot, mulher belíssima, de muitos amores, fôra várias vezes vítima da crueldade da sociedade em que vivemos. Em suas tentativas de suicídio, quando voltava a si e à sua realidade, abria a correspondência e lia coisas estúpidas, do tipo: "Da próxima vez, pule do alto da Torre Eiffel. Assim não terá erro" ou então "Se você morresse seria menos uma vadia no mundo".
Durante a década de 50, desde sua estréia com Roger Vadim no ótimo "...E Deus Criou a Mulher" vieram filmes como "A Mulher e o Fantoche", "Babette Vai à Guerra", "Ao Cair da Noite", "Voulez-vous Dancer Avec Moi", dentre outros.
Um dia, sua dublê e amiga Maguy adoeceu e Brigitte foi fazer companhia a ela no hospital. No elevador, o terror foi explicado por ela própria e poucos anos depois entrou no roteiro de "Vida Privada", de Louis Malle, como uma das cenas. Eis o ocorrido, como fato:
"...tomei o elevador com uma copeira que estava levando uma bandeja para um paciente. Estávamos a sós e o elevador era extremamente vagaroso. Ela me encarava com maldade. Senti uma estranha angústia. Tive medo!
De repente, ela explodiu!
_Então, é você, heim! Espécie sórdida, imunda, filha de nada, você toma todos os homens das pobres mulheres como nós! Ah! Tenho vontade de desfigurá-la, de lhe furar os olhos!
Então, empunhou o garfo e avançou sobre mim."
Ela começou a gritar e protegeu o rosto com os braços. O garfo perfurou a manga do casaco e a mulher, enfurecida, continuava a insultá-la. Brigitte, petrificada, não tirou os braços do rosto um segundo sequer.
Nos dias de hoje, celebridades como Brigitte Bardot não representam um perigo para a sociedade. Elas não são mais "escandalosas". Elas se reinventaram e criaram um estilo de vida falso para dizer: "Ei, eu sou perigosa".
Bardot, pelo contrário, era natural. Sua sensualidade, seu estilo de vida, simples para uma diva do cinema. Os pés descalsos no chiquérrimo Maxim's porque "os saltos machucavam seus pés". Os cabelos soltos por que "não suportava aqueles penteados". O prazer e a vontade de se sentir livre com o calor do sol em seu corpo estirado no mar de Saint-Tropez ou Búzios ou La Madrague.
O símbolo da liberdade, ícone do cinema francês foi condenada a viver presa por sua própria fama e pelo amor que tinha às coisas simples da vida. E foi assim até ela desistir do ser humano e se entregar às causas dos animais.
A amargura da Brigitte de hoje é o resultado dos anos em que foi usada pelos homens, julgada pelas mulheres e traída por seus amigos.
E hoje ninguém mais se lembra da jovem citada acima, de seu frescor. Pois isso tudo se esvaiu quando se perdeu a credibilidade no ser humano.

*Obs: O blog não está fazendo apologia à desistência do ser humano. Só objetivou contar a história através do ponto de vista de Brigitte Bardot.

10 comentários:

História é Pop! disse...

Adorei a postagem sobre BB,
e belissima imagem.

Renato Oliveira disse...

Fantástico! também acredito que esta "naturalidade" é tão pouco vista hoje em dia, em pessoas e "astros" tão parecidos entre si.

amei o post, super pertinente! *______*

Um abraço
www.cinefreud.com

Unknown disse...

Obrigada, Renato e Júnia!

Realmente os astros hoje são parecidos demais, salvo raras excessões.

Um abraço,
Dani

As Tertulías disse...

Ótima postagem adorei!!!! Na realidade nunca tinha lido nada sobre BB - nunca me interessou na verdade. Voce mudou isto pois colocou-a de carne e osso aqui. Muito Bem!!!!!

Renato Oliveira disse...

Oi Daniele,
muitíssimo obrigado pela visita ao blog. Seja sempre bem vinda.

Um ótimo feriado para ti! ;D
abraços

Unknown disse...

Ricardo, do tertúlias,
pôxa, me sinto muito lisonjeada. É muito bom quando um texto toca uma pessoa a ponto de fazê-la se interessar pelo assunto. Muito obrigada mesmo!!!

Renato, de nada! Estarei sempre por lá! Obrigada pela acolhida!

Um abraço e feliz Páscoa,
Dani

ANTONIO NAHUD disse...

Dani, impressionante a cena do elevador. Que maluca! Muito bom o texto. Parabéns.

O Falcão Maltês

Unknown disse...

Obrigada, Antonio!
Mas não é? Imagine-se numa situação dessas, rapaz! Seria terrível para qualquer um.

André Setaro disse...

Bela e cruel, porque bela, e cruel, porque desestabilizante.

Anônimo disse...

bom que a Brigitte não se Matou!! a Juventude da beleza passa com o tempo!! os bons filmes dela ficaram para sempre!!!! o que importaé que ela seja feliz com 60 ou 100 anos,tanto faz!! a Felicidade tem que ser buscada nas pequenas coisas do dia-a dia sem exigir tanto de si Mesmo e nem dos outros!!! a Vida é Bela!!! Marcos Punch